terça-feira, 5 de agosto de 2014

PARA OS DISCENTES DO QUARTO SEMESTRE, CONCEIÇÃO DO COITÉ, CAMPUS XIV - AULA 14:

A Nova História possui a fama de ter sido a grande responsável pelo alargamento das concepções sobre fontes e objetos no campo da História. Entretanto, os historiadores do continente africano já visualizavam tal movimento desde os anos 1960. Como definir a História da África, a partir de Obenga?

3 comentários:

  1. Da crítica histórica fizeram da história uma técnica do documento através dos tempos, fundamentais para os historiadores em qualquer país. Porém, o esquecimento desse postulado manteve durante muito tempo os povos africanos fora do campo dos historiadores ocidentais, para quem a Europa era, em si mesma, toda a história, subjacente, sem manifestação claramente, persistente na inexistência de uma história na África, dada a ausência de textos e de uma arqueologia monumental.
    Portanto, parece claro que o primeiro trabalho histórico se confunde com o estabelecimento de fontes.
    Setores imensos de documentação foram revelados, permitindo aos pesquisadores formularem novas questões. Quanto mais os fundamentos da história africana se tornam conhecidos, mais essa história se diversifica e se constrói de diferentes formas, de modo inesperado, como a existência de fontes utilizadas para a história africana: geologia e paleontologia, pré-história e arqueologia, paleobotânica, palinologia, medidas de radiatividade de isótopos capazes de fornecer dados cronológicos absolutos, geografia física, observação e análise etno-sociológicas, tradição oral, lingüística histórica ou comparada, documentos escritos europeus, árabes, hindus e chineses, documentos econômicos ou demográficos que podem ser processados eletronicamente.
    A utilização cruzada de fontes aparece como uma inovação qualitativa. Uma certa profundidade temporal pode ser assegurada pela intervenção simultânea de diversos tipos de fontes. A integração global dos métodos e o cruzamento das fontes constituem desde já uma eficaz contribuição da África à ciência e mesmo à consciência historiográfica contemporânea.
    O resgate da história de África se afigura viável com a construção de metodologias baseadas na crítica histórica e no espírito histórico, devido à escassez de fontes escritas e uma arqueologia monumental como postulados para o estudo da sociedade humana que fez com que o seu esquecimento remetesse durante muito tempo os povos africanos fora do campo de historiadores ocidentais. Com o advento da descolonização, foi fundada a história africana, com uma diversidade de fontes, embora a metodologia estivesse em construção, visto que a variedade de fontes implica a sua utilização cruzada (OBENGA 1999,p.92).
    A prática da história na África torna-se um permanente diálogo interdisciplinar. Novos horizontes se esboçam graças a um esforço teórico inédito. A noção de "fontes cruzadas" exuma, por assim dizer, do subsolo da metodologia geral, uma nova maneira de escrever a história. A elaboração e a articulação da história da África podem, conseqüentemente, desempenhar um papel exemplar e pioneiro na associação de outras disciplinas à investigação histórica.

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  2. Determinar métodos para historiografia depende do tempo e do local de onde o historiador escreve. Assim como descobrir novas possibilidades de fontes para inovar a história. Outrossim, os autores da Nova História muito provavelmente se consideraram pioneiros com a inovação de fontes pois, não conheceram essa aplicação já realizada desde os anos 40 através dos historiadores africanos de diferentes países. Enquanto a interdisciplinaridade com as demais ciências humanas e sociais significava um grande avanço que marcaria para sempre a historia da historia, muito antes disso, num continente estigmatizado por essa mesma historia, produzia-se o intercruzamento de fontes não somente com outras ciências humanas, mas mais além: com ciências exatas, naturais e biológicas. T. Obenga nos propõe esta historia da África realizada não por ciências auxiliares: são ciências tão indispensáveis que tornam-se inerentes aos estudos sobre o continente, pois a historia tradicional não daria conta. A geologia, paleobotânica, a química, a física já se disponibilizavam para a historia por meio de historiadores que não precisaram esperar por inovações técnicas “descobertas” pela Nova Historia. Obenga assim como outros historiadores africanos determina como indispensável uma metodologia especifica para que se possa conhecer a historia do seu continente para além da herança colonial deixada. Era necessário compreender como o Egito era tão africano quanto Angola, e quem dividia a historia da África entre África nórdica e a subsaariana – eram historiadores europeus (ou próprios africanos europeizados) que definiam a historia somente por vestígios de fontes escritas. Para estes, a oralidade não era confiável, e os países que não possuíam registros escritos, também não tinham historia.
    Assim foi definido por muito tempo o continente africano, mais especificamente a África subsaariana, para a historiografia tradicional, e assim essa historia foi proliferada nos manuais didáticos. O respaldo que as fontes cruzadas proporciona mostra evidências profundas sobre a relação entre esta África no norte e toda a África negra. Obenga é portanto, um autor indispensável para se pensar a metodologia criada por africanos para a própria África, com objetivos diversos que se unem geralmente num só: conectar a historia da África com a historia do mundo. A egiptologia é um exemplo de que existiu um lugar que a escola dos Annales não alcançou. Esta área criada especialmente para o estudo da historia do Egito antigo, obtém informações precisas sobre vestígios humanos, mumificação, culto aos deuses, descobertas proporcionadas pelos estudos com carbono 14 aliados à historia. Uma área desvencilhada da outra não seria suficiente pra o desenvolvimento eficaz dos estudos egiptológicos. A lingüística também tem oferecido a historia, segundo Obenga, um grande avanço em relação à descoberta de línguas associadas à língua egípcia. Vestígios de animais, plantas e seres humanos através de descobertas arqueológicas e químicas também são contundentes para fazer esta ligação, o que nos mostra que o Egito tanto influenciou quanto foi influenciado pelas demais regiões africanas. Logo se vê que não se trata de um continente sem historia. Trata-se de uma historiografia convencional que assim o define por não estar preparada técnica nem metodologicamente para estudar a historia das peculiaridades políticas, culturais e geográficas deste continente.

    Bruna Meyer V semestre Campus Alagoinhas

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  3. Theófile Obenga, alerta o esquecimento, por muito tempo, dos povos africanos do campo dos historiadores ocidentais. Por anos, permaneceu a crença (errônea) da inexistência de uma historia da África. Para o autor, é evidente a necessidade de estabelecimento de fontes como um primeiro trabalho do historiador, seguido do exame de procedimentos técnicos destas fontes. Obenga é considerado pioneiro nestes trabalhos que visam á escrita de uma nova historia africana.
    Com diversos documentações revelados, foi possível a formulação de novas questões sobre a existência de fontes particulares como a geologia, paleontologia, pré-história e arqueologia, paleobotânica, geografia física, tradição oral, linguística, documentos econômicos ou demográficos, entre inúmeros outros. Diante dessa ampla variedade de recursos, Obenga acredita que a utilização cruzada de fontes aparece como uma grande inovação na história africana.
    Isto nos permite pensar na construção plural com a contribuição de diversas áreas do conhecimento, em que o trabalho do historiador não se limita a esclarecer fontes, trata-se de se apropriar, através de uma sólida cultura pluridimensional do passado humano.

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