terça-feira, 6 de maio de 2014

PARA OS DISCENTES DO SÉTIMO SEMESTRE, ALAGOINHAS, CAMPUS II - AULA 03:

O conceito de “Partilha Africana” vem sofrendo diversas críticas tanto de historiadores africanos, bem como de africanistas, por aludir, mesmo que de forma implícita à ideia de que as potências europeias dividiram o continente africano entre si, e em seguida tomaram posse dos territórios, reforçando a ideia da passividade histórica dos povos africanos. Nos livros didáticos, bem como em diferentes obras sobre a questão, este conceito possui grande força. Por favor, comentem a respeito da relação entre o conceito em questão, as posições de Ki-Zerbo e suas opiniões pessoais, respeitando os textos lidos em sala de aula.

12 comentários:

  1. De acordo com as leituras realizadas e as discussões em sala de aula pode ser observado que o historiador da África deve dar o destaque realmente merecido à opressão do tráfico de escravos e à exploração imperialista para a evolução do continente e que esse papel muitas vezes é minimizado por alguns historiadores europeus, trazendo consequências desastrosas para as mentalidades dos jovens africanos que aprendem nas escolas através de informações deturpadas. Segundo Ki-Zerbo a colonização do continente africano não foi um processo que ocorreu de forma simplista e com a passividade e aceitação dos povos da África, ao contrário do que os livros didáticos difundem, houveram vários movimentos de resistência contra a dominação do continente após a partilha. Portanto é possível concluir que a cautela é fundamental no momento de pesquisar sobre a historiografia da África, pois a visão eurocêntrica, muitas vezes, distorce os acontecimentos influenciando não apenas os historiadores que não são africanos como os africanistas.

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  2. A historiografia tradicional eurocêntrica defende o conceito de Partilha Africana, bem como a ideia de passividade histórica por parte dos povos do continente da África, muitos dos livros didáticos também reproduzem tais ideias.
     Atualmente, felizmente, já encontramos muitos autores que discordam com estas opiniões e questionam estas visões, a exemplo de Ki-Zerbo, Hernandez entre outros.
    Segundo Hernandez “tratar da partilha europeia e da conquista da África significa repor o protagonismo europeu no momento em que são traçadas as fronteiras do continente na conferência de Berlim (1884-85)”.
    Porém, após os textos trabalhados em sala, sabemos que os povos africanos foram de fundamental importância dentro deste processo e não foram meros coadjuvantes, pois foi a partir da sua colaboração que os europeus conseguiram conquistar algumas das regiões, além disso, é importante ressaltar que não foi algo fácil para os europeus porque outra parte dos povos africanos resistiu bravamente a esse processo de dominação, dificultando muito esta conquista.

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  3. Bom, de fato, a "Partilha" do continente africano aparece, principalmente no pensamento de Hernandez e Ki-Zerbo, sobretudo neste último, como uma aventura iniciado desde o século XV e, por isso, um longo processo até chegar, em fins do século XIX, com pouco conhecimento científico acerca do continente africano. Nesse sentido, a Conferência de Berlim (1884-85), ou antes, os congressos científicos propostos pelo rei da Bélgica Leopoldo II, iniciam o que seria as bases dos discursos da dominação colonial europeia sobre a África em fins do século XIX. Esse processo, que se inicia no século XV e vai até fins do século XIX é entendido como o processo de “Roedura” do continente africano.
    Ora, se pensarmos segundo Hernandez, de que a justificativa da Conferência de Berlim teria sido, sobretudo, a de "civilizar" os povos "bárbaros", cristianizando-os, livrando-os dos seus "rituais profanos", enfim, como uma "missão civilizatória", o conceito de Roedura mostra por exemplo, pela própria metodologia utilizada, de introspecção, de recuo temporal, e mesmo pelo seu impacto teórico, que a “Partilha” foi o resultado de um longo processo no qual houve relações íntimas de interesses entre europeus e africanos. Outrossim, este conceito, pela própria nomenclatura, propõe os europeus, ou especificamente os países da Europa que se empenharam na empresa, como roedores (ratos), cujo queijo (o continente africano, ou mais especificamente, regiões diferenciadas do continente africano) mostrou-se em lugares mais duros de serem roídos, precisando, no mais das vezes, do auxílio, não sem interesses, das próprias regiões a serem desbravadas e inseridas no progresso universal a que todas as partes do mundo deveriam se encontrar.
    Sabe-se que os chamados “cinco séculos formadores” (séc. VII ao XI) foram importantes para a história do continente africano. Estabelece-se nesse período, por exemplo, os grandes reinos com os quais os países europeus vão estabelecer contato à partir do século XV no processo de roedura. Já havia, portanto, uma circulação própria, autóctone, dentro do continente africano, que não poderia ser negligenciada pelos novos que vinham.
    Podemos entender o conceito de roedura da seguinte maneira: roedura das práticas religiosas, ritualísticas dos povos do continente África, pois que a ideia era salvar as almas dos povos bárbaros por meio da proibição das suas próprias práticas religiosas que, por exemplo, ao contrário da concepção cristã, não tinha uma divisão entre as esferas secular e o espiritual. Esse processo não se deu sem resistência: “(...) desobediência às condenações dos missionários e à fidelidade aos seus ritos de forma aberta ou clandestina como pelo sincretismo (...)”. (HERNADEZ, 2005, p. 54); roedura das economias, pois que fundadas, sobretudo nos períodos formadores, em relações dentro do próprio continente africano, e, á partir do século XV, sobretudo no século XVI e XVII, pelo tráfico atlântico cuja consequência foi o redimensionamento de milhares de indivíduos para fora do continente.

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  4. Ao tratar do processo de dominação do continente africano e mais especificamente a partilha africana, muitos historiadores, influenciados pelo pensamento eurocêntrico, montaram uma historiografia que ignorava a ação dos africanos na construção de sua história, que infelizmente se faz muito presente nos livros didáticos. A História da África foi construída sob a ótica do vencedor, na qual a resistência dos povos nativos contra o processo de dominação colonial foram simplesmente minimizados, ou até mesmo ignorados pelos historiadores europeus.
    Segundo Ki-Zerbo(2002),, a História da África tem que mostrar os verdadeiros papeis dos povos colonizadores e dos povos colonizados no processo de dominação africana, dando o verdadeiro lugar a opressão do tráfico de escravos e a exploração imperialista na evolução do continente africano que por muitos historiadores europeus é minimizado, trazendo para jovens africanos um memória de sujeição, passividade e de inferioridade diante dos povos europeus.
    Em suma, é importante relembrar que todo processo de dominação do continente africano, desde o processo de roedura do mesmo, como é colocado por Hernandez (2005), ao desfecho dado na conferencia de Berlim, muito apresentado pela historiografia como partilha da áfrica, foi marcado por grande resistência dos povos nativos. Nesse sentido, Ki-Zerbo (2002), faz uma critica aos historiadores europeus que ignora a participação desses povos na sua própria historia. Como diz o autor supracitado, é preciso novos e bons historiadores que tragam à luz outra versão dos fatos, atribuindo aos Africanos o papel de sujeitos e não apenas de objeto de dominação e escravidão, de forma que jovens africanos ou descendentes africanos, ao ler o livro didático, não se envergonhem de seu passado e nem se sintam como raça inferior. Sabemos que é inegável a dominação do continente africano pelos europeus, mas isso não resume e nem totaliza a história do continente africano, mesmo porque ela é viva, e se tratando da áfrica que até hoje é vista com um olhar eurocêntrico, se faz necessário um desconstrução da historiografia tradicional.

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  5. O termo "roedura" utilizado por historiadores contrários à ideia de partilha, a qual conota passividade dos africanos no processo de colonização, é apropriado para explicar a espoliação realizada pelos europeus no continente africano, primeiro nas regiões costeiras e posteriormente em seu interior, desde o século XV, e que culminou na conferência de Berlim (1884-85). Nesse rol de historiadores podemos destacar Leila Leite Hernandez. Esta autora ressalta dentre outras coisas o fundamental papel dos missionários e viajantes, tanto para coletar informações necessárias à invasão quanto para desestabilizar as religiões, as autoridades e as diferentes sociedades africanas e facilitar, deste modo, a penetração e dominação europeia. Assim, guardadas as devidas proporções, o papel desenvolvido pelos missionários de diferentes ordens religiosas na colonização africana assemelhou-se ao exercido pelos padres jesuítas nas Américas nos séculos XV e XVI, ao saber catequizar, impor novos valores, demonizar os deuses e a religião dos autóctones, destruir as suas crenças, incriminar as suas identidades e memórias.
    Contudo, devemos recordar que este processo de imposição de uma nova religião também não se deu pela aceitação passiva por parte dos diversos povos em questão. Alí, não houve uma aculturação (uma cultura superior que domina e se sobressai a uma inferior) e sim uma interpenetração cultural: negros e brancos foram influenciados concomitantemente uns pelos outros. Segundo Ki-Zerbo, a colonização do continente africano não foi um processo que ocorreu de maneira simples e com passividade e aceitação dos povos da África, ao contrário do que os livros didáticos difundem, houveram vários movimentos de resistência contra a dominação do continente após a partilha. Neste sentido, é possível concluir que ao contrário do que mostra a historiografia tradicional eurocêntrica, os africanos não foram submissos e nem tão pouco pacíficos, eles foram estratégicos, e criaram formas diferentes de resistências que culminaram no processo de emancipação dos países africanos e puderam se tornar protagonistas de sua própria história.

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  6. A historiografia mais recente vem se preocupando em desconstruir estereótipos que se criou em torno da história da África. O conceito de “Partilha Africana” vem-se alterando com essa nova historiografia, o processo de colonização e divisa dos Estados africanos não foi ação exclusiva das nações europeias e sim fruto de um contexto de lutas e interesses de um período especifico da história do continente.
    O processo para a exploração do continente africano se intensificou com a Conferência de Berlim, esse no entanto não foi o único movimento de organização das nações europeias para discutir sobre os países africanos. Os estudos sobre o continente africano começaram ainda no final do século XIX, viajantes andavam percorriam o interior da África catalogando rios e outras riquezas. Muitos desses viajantes e estudiosos enviados pelas nações europeias constituíam a ideia de que a África seria um continente atrasado e precisava da ajuda dos potentados europeus para conhecerem a civilização e o progresso.
    O fato é que todas as medidas tomadas pelas potências europeias em relação a África entre 1876 e 1884 são os primeiros indícios reveladores do interesse europeu e o início de processo de Partilha do continente, no entanto o processo de colonização no continente não se deu de forma homogênea e as nações europeias em determinadas localidades tiveram que enfrentar a resistência e as lutas dos povos africanos. Segundo Leila Hernandez esse período se caracterizou pela assinatura de inúmeros tratados entre políticos europeus e os nativos o que significa dizer que ao contrário do que tratava a historiografia tradicional os povos africanos não foram passivos as mudanças sociais, econômicas e estruturais ocorridas no continente e sim o processo de partilha africana foi fruto de um contexto histórico especifico.

    Marina Pinto dos Santos
    VII semestre - UNEB Campus II

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  7. Mas a reflexão a respeito desse processo nos leva a entender também a visão dos africanos em relação ao Imperialismo, um grande movimento se desenha pra mostrar que não houve uma dominação por completo na África, nesse contra ponto houve sim uma resistência dos africanos nesse período. São colocas em questão algumas teorias que apresentam o povo africano como passivos, que foram dominados por povos que por natureza são forte e tem a missão de civilizar povos considerados bárbaros, com culturas inferiores ou mesmo sem cultura.
    Isso demonstra sem dúvidas as ideias preconceituosas e racista essência desse Imperialismo buscava colônias para ampliar tanto seu prestígio quanto para equilibrar suas forças em relação aos mais fracos, que serviria como um mecanismo de estabelecer a ordem mundial, o expansionismo garantiria a estabilização dessas forças. Sendo assim, desconsiderando alguns aspectos desse processo histórico que antecede tal imperialismo, a entrada europeia na África foi caracterizando o chamado processo de roedura, entendido muito antes, responsável por desestabilizar alguns países do Continente.
    Segundo Ki-Zerbo, a colonização do continente africano não foi um processo que ocorreu de maneira simples e com passividade e aceitação dos povos da África, ao contrário do que os livros didáticos difundem, houveram vários movimentos de resistência contra a dominação do continente após a partilha. Neste sentido, é possível concluir que ao contrário do que mostra a historiografia tradicional eurocêntrica, os africanos não foram submissos e nem tão pouco pacíficos, eles foram estratégicos, e criaram formas diferentes de resistências que culminaram no processo de emancipação dos países africanos e puderam se tornar protagonistas de sua própria história

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  10. A História da África durante um longo período estava sendo compreendida a partir dos conceitos e determinações europeias, novos historiadores como Ki-zerbo e Leila Leite Hernandez nos mostram que a África tem seu próprio tempo histórico.
    O autor Joseph Ki-zerbo em seu trabalho Historia da África negra I, problematiza a periodização do continente africano, e afirma que os quadros cronológicos da Europa não possuem o mesmo significado para África, que não existe uma separação nítida destes períodos, pois cada região possui características diferentes.
    E o autor afirma que é a partir do ano de 1880 com a Conferência de Berlim que começa o tempo contemporâneo da África. Dialogando a a respeito deste período, problematiza os principais fotos sucedidos desde a conferência, considerando os principais debates em torno dos anos 1880, os missionários, viajantes, as instalações das colônias, as invasões europeias e todo o contexto em que ocorreram. E enfatiza a necessidade de levar em consideração todas as especificidades que abrangem os processos históricos do continente africano.
    A autora Leila Leite Hernandez em seu trabalho “O processo de ‘roedura’ do continente africano e a Conferência de Berlim”, tem como um de seus principais objetivos analisar a áfrica dentro de seu continente e abre ao africano o espaço para assumir seu papel de “protagonista” de sua própria história, e ressalta que foi desde o século XV que a áfrica começou seu processo de retaliação, que tanto os europeus quanto portugueses começaram suas explorações a principio de alimentos e posteriormente metais preciosos. E foi a partir dai, ha quatro séculos depois resultaria na conferencia de Berlim.
    A conquista e ocupação do continente africano não foram passivas com pontuada por a maior parte da historiografia. A França, por exemplo, guerreou 19 anos até a sua real ocupação. Na África Ocidental a conquista da Costa do Marfim da mesma forma que a britânica, extremamente agressiva e violenta, dentre as potencias européias a Itália foi a que encontrou maiores dificuldades para sua ocupação efetiva.
    Mesmo com sua incapacidade demográfica, com auxílio de armas de fogo, meios de comunicação os europeus mostraram-se como fortes adversários. Souberam enfrentar uma série de resistências e obtiveram a vitoria. E os povos que resistiram foram considerados como sedentos de sangue e os defensores da dominação colonial referiram-se como reações “primitiva e irracional”, “banditismo social” ou “rebeliões camponesas” e nunca como rebeliões racionalmente organizadas.
    Uma nova historiografia surge e destaca as ações das diversas sociedades africanas diante do colonialismo europeu, mostrando toda sua luta e resistência, desmistificando essa passividade apontada pela historiografia tradicional eurocêntrica.

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  11. A historiografia sobre a história da África é muito diversa, mas por muito tempo foi marcada como se fosse um lugar de doenças, fome e negros. No entanto, através de novos estudos essa realidade vem mudando. Uns dos temas trabalhado pelos historiadores se refere à colonização e a divisão do continente. Em relação da divisão da África alguns autores abordam que sua divisão ocorreu com a Conferência de Berlim, entre eles, está Ki-Zerbo. Observando que o mesmo ressalta que devemos ter cuidado em determinar marcos históricos.

    Outros autores entre eles, Leila Hernandes desenvolvem uma linha de pesquisa que abordam que a divisão da África se deu bem antes da Conferencia de Berlim, esta que ocorreu entre 1884 -1885. Nessa perspectiva, Leila Hernandes traz que desde a expansão marítima os viajante e missionários tiveram papéis importantes na “roedura” do continente africano, sendo que cada um possuíam objetivos diferentes.

    Os viajantes tinham como objetivos de conquistar recursos minerais e terras e os missionários de civilizar os africanos e salvar suas almas, convertendo ao cristianismo e aos valores da cultura europeia, realizando assim pregações contraria a ritos sagrados da localidade. Nesse período algumas partes do continente ficou controlada pelos europeus, desconsiderando assim os direitos dos povos africanos, sem respeitar sua religião, história entre outros fatores que foram motivos de grandes conflitos no continente.

    Segundo Leila Hernandes o processo de roedura foi acelerada pelos exploradores (viajantes e missionários) que procuravam eixos de acesso para o interior. A autora cita que a participação dessas pessoas foi de suma importância para a divisão do continente africano, devido o mapeamento feito por eles e utilizado pelos portugueses.

    Em suma, uma parcela dos interesses políticos e econômicos da Europa se deram através da Conferência de Berlim no que resultou na divisão do continente africano. Mais isso não significa que sua divisão se deu com a mesma, nota-se que esse processo já vinha se desenvolvendo a muito tempo pelos diversos viajantes e missionários que vinham percorrendo e explorando essa localidade, deixando vestígios e documentos importantíssimo no que resultou na “divisão” da África na Conferência de Berlim.

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  12. O conceito de “Partilha Africana” está assentado numa historiografia fortemente condicionada pelo olhar eurocêntrico em relação à colonização dos povos africanos pós Conferência de Berlim. Segundo essa visão o evento de Berlim foi fruto da legítima reivindicação das potências europeias por possessões na África, com vistas em promover a civilização dos povos , tidos como culturalmente atrasados. A Conferência de Berlim seria então um momento originário dessa partilha. Segundo Ki-Zerbo contesta esse conceito e defende que o processo de colonização se intensificou na década de 70 do século XIX, quando as potências já sondavam a geografia do continente , catalogando suas riquezas e percebendo o potencial econômico de cada região para seus projetos imperialistas. A “partilha” não pode ser vista simplesmente como um movimento que se encerra no documento, mas num processo complexo que demandou muitos conflitos regionais de europeus com as populações resistentes. Não puderam ser possíveis os anos de domínio europeu senão pela constante negociação com os povos nativos.

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