Trata-se de mais um instrumento de divulgação dos debates feitos pelos discentes do curso de História da Universidade do Estado da Bahia - através da ação do Núcleo de Estudos Africanos.
sábado, 29 de setembro de 2012
Para os discentes de Jacobina: aula II.
No texto do historiador de Burkina Faso, Joseph Ki-Zerbo encontramos uma grande variedade de povos e reinos. O texto nos apresenta uma dinâmica que constrasta com as representações hegemônicas existentes no Brasil sobre o continente africano. Quase sempre percebemos, tanto no cinema, como nos livros didáticos, uma África primitiva, atrasada e distante do que ela é de modo efetivo.
Nesse sentido, por favor, gostaria que respondessem sobre as impressões suscitadas, de modo geral, sobre o continente africano após a leitura do texto acima referido. É possível referir-se ao continente africano da forma como se faz costumeiramente, após a leitura do texto de Ki-Zerbo? Quais as principais questões levantadas pelo mesmo no texto?
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ResponderExcluirGeisa Marla
ResponderExcluirApós as leituras feitas dos textos referentes à África, percebe-se que é um continente com uma população nada homogênea e com suas diversidades ou pluralidades de culturas, línguas e origens e possui também suas riquezas naturais e econômicas, ou seja, é um continente com suas complexidades e não só de tristeza e miséria como coloca muitas vezes a imprensa midiática, e também a forma como foi presentada por um longo processo do período histórico por ideias eurocêntricas, muitas vezes querendo nos mostrar uma África de forma negativa.
Em História da África Negra – 1, no capítulo - A África Negra do século VII ao século XII: dos reinos aos impérios. Joseph Ki-Zerbo vem mostrar a importância sobre a continuidade da expansão e transição dos Árabes que saem da Arábia e passam pelo Egito, a região do Nilo e chegam se instalar em Magrebe, provocando invasões e saqueando algumas localidades, vale lembrar que segundo o autor, os islâmicos obtiveram sucesso em suas conquistas se tornando assim um fenômeno histórico para os três continentes, ( Ásia, África, Europa). Ki-Zerbo trás alguns nomes de escritores intelectuais e viajantes que foram para África e através de suas pesquisas em fontes orais e arqueológicas nos propõe reflexões históricas sobre o país Africano como é o caso do império de Gana e alguns dos seus reinos, e, sobretudo o desenvolvimento local, cultural, organização política, a vida econômica, enfim, assim como os processos de transferências e instalação do comércio mudo, “monetário”, apogeu e declínio de Gana, e o fim dos Almorávidas povos que chegaram a destruir o reino de Gana.
Diante dessa premissa o autor vem destacar também que esses movimentos aconteciam de forma dinâmica e trás exemplos como os reinos do Sahel, onde se localiza o reino de gana, sofreram processos e rebatimentos diversos pela expansão islâmica. Vale acrescentar que com essas movimentações aumentavam-se cada vez mais as transações comerciais com outras localidades, pois os islâmicos davam ao comércio uma maior mobilidade, utilizavam também os critérios de monetarização - século IX, com o uso de cheques para se obter um tipo de comercialização mais firme e organizado. Lembrando que durante o período desses processos de lutas, invasões, transições e expansões, os árabes espalham a sua cultura e também a religião, fixando, formando ou construindo uma fusão de novas culturas.
A coleção "História Geral da África" foi viabilizada através de um grande investimento acadêmico/científico da UNESCO. Nessa empreitada que durou quase meio século os maiores nomes africanos das áreas de História, Antropologia, Arqueologia, Sociologia e diversos outros campos da área das humanidades foram reunidos com o objetivo de trabalhar coletivamente para o fim de apresentar ao mundo um estudo detalhado, com alto nível de cientificidade sobre a história do continente africano. Dentre os gabaritados intelectuais participes do projeto, Joseph Ki-Zerbo em minha opinião se destaca, o autor consegue unir magisralmente cientificidade e linguagem poética, característica vista em pouquíssimos acadêmicos.
ResponderExcluirAs representações estereotípicas negativas aglutinadas e solidificadas em nosso imaginário cultural a respeito do continente africano começam a dissolver-se vagarosamente no meio acadêmico há parir da divulgação dos resultados dessa grande pesquisa subsidiada pela UNESCO, entretanto, na sociedade como um todo o que ainda predomina são os velhos preconceitos. Após as leituras de Zi-Zerbo, ficamos a nos questionar como coisas tão absurdas sobre a África existiam em nossa cabeça, e existem na cabeça da grande maioria das pessoas. Podemos começar pela idéia torpe de se imaginar um continente gigantesco como a África como um país, habitado por um povo unido, racial e culturalmente homogêneo. Zi-Zerbo vem desconstruir as imagens geradas pela mídia de massa ocidental encabeçadas por Hollywood a respeito deste continente, mostrando que essa África cheia de negros de vivem milenarmente em tribos não existe. O que existe na África são centenas de povos, na conotação mais pluralizaste que esse termo possa alcançar, povos de forma alguma comungam de uma mesma ideologia, cultura, religião ou sentimento de pertencimento a uma dada nacionalidade.
Há de se reconhecer que não só a indústria cultural hollyhoodiana é responsável por esse “genocídio” das histórias dos povos africanos, afinal isso começa bem antes da mídia, talvez esse discurso nasça com a necessidade político-religiosa de se justificar a escravização de seres humanos oriundos desse continente. O mais curioso é que ele se reforça no século XX através de um movimento que procura combater as feridas abertas pela escravidão, o Pan-africanismo. Os militantes desse movimento, que aliás não são africanos, irão forjar um discurso político-ideológico altamente daninho a verdadeira realidade vivida por os povos desse continente, ainda que seu objetivo seja o contrário. Ki-Zerbo deixa claro em seu discurso que a idéia de uma África negra e unida não passam de conjecturações feitas a partir de uma posição exógena a esse continente, isso é impensável para um habitante de qualquer um dos muitos países africanos, o próprio conceito de “africano” se quer existe.
MARCELO ROCHA